23 de setembro de 2011

A CRUZ TRANSPARECE A VIDA

Para muitos a cruz é sinônimo de dor e sofrimento. Realmente ela é um instrumento de dor e sofrimento, mas foi transformada em um caminho humanizador e transformador.
Quem primeiro percorre esse caminho é o próprio Deus, que assumindo a nossa condição humana em Jesus Cristo, aproximou-se de nós a tal ponto que acolheu a nossa morte como sua. E esse movimento de Deus em direção a humanidade é uma entrega absoluta e plena, uma oblação de amor ao ser humano. Nesta entrega de Jesus na Cruz é também uma entrega ao Pai. Ele agora está plenamente na vontade de Deus, isso passando pela morte.A pedagogia da Cruz revela como nós, seres humanos, aceitamos a salvação oferecida por Cristo. Aceitar a salvação é aceitar um caminho, o caminho de Cristo que passa pela Cruz. Nesse caminho encontramos as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade.  A fé é um lançar-se em frente, confiando que Deus é maior que a vida e tudo que há nela, é arriscar tudo; a esperança nos motiva a continuar, mesmo diante das provações, pois sabemos que as promessas de Deus são melhores que nossos desejos; e o amor que é a entrega da vida, sem resposta e sem restrição. O máximo de nós mesmo se encontra na morte, onde não temos mais pra onde ir nem fugir, apenas se lançar nos braços do Pai Misericordioso.
A cruz revela pra nós a nossa natureza humana, finita e capaz de grandes feitos. Jesus ao convidar os discípulos a carregar a cruz, ele nos convida a aceitar toda nossa condição humana, para sermos capazes da plena entrega a Deus.
“...aceitar aquilo que querendo ou não, faz parte dessa natureza, com sua corporeidade, sua sexualidade, sua estreiteza, seu sucumbir à morte, com sua dor, com sua simpatia e solidariedade para com os outros, com sua descendência do mundo, com sua inserção na história da natureza e do restante da humanidade” Rahner – teólogo alemão (GRÜN, Anselmo – A CRUZ: a imagem do ser humano – Paulus 2010, p. 63)

Aceitar-se é algo necessário para pode se superar. E isto não é se tornar um super-homem, mas ser capaz de reconhecer suas capacidades e limites, o que nos permite sermos mais humanos com nós mesmos, com os outros e com a vida. E nesta aceitação está à morte, que pedagogicamente nos revela o essencial da vida, fazendo-nos morrer todos os dias, na aceitação incondicional de nossas obrigações, da nossa condição criatural, com seus acertos e erros, em nosso amor cotidiano, às vezes mesquinho e acolhedor, e assim encontrar a vida.
Jesus na cruz torna-se a imagem do ser humano que Deus quis: capaz de viver até a entrega da vida, perdendo tudo para ganhar o Absoluto, arriscar-se completamente em Deus, sair de si mesmo em direção ao eterno, sendo capaz de se entregar em oferta de amor. Pois a realização plena de nossa liberdade passa pela entrega plena em direção do mistério incompreensível de Deus. Quem se lança assim nos braços amorosos do Pai, que em no pensamento do Santo Inácio de Antioquia é o Filho e o Espírito Santo, encontra a serenidade que tanto precisamos. A Cruz nos liberta para sermos nós mesmos,  aceitar a Cruz é aceitar o caminho da auto realização. A cruz revela a nossa condição de estarmos estendidos entre o céu e a terra, por isso ela nos convida à verdadeira vida e à nossa verdadeira humanidade.

Pe. Francisco Leiva Neves Carvalho
Pároco de Orós